Coisas Nossas, já foram assim !

Mangual

Ferramenta feita de madeira muito rija; Carvalho, Azinho ou Freixo, este pouco usual devido a abrir mais facilmente. O cabo era, geralmente, de Freixo ou Castanheiro. Tanto o cabo como o mangual levavam uns carapuços de pele de porco por curtir, por ser mais macia e resistente. Eram ligados entre si por uma correia intermédia, também de pele de porco, no carapuço do próprio mangual eram feitos 8 furos, 4 de cada lado, e dobrado ao meio, que eram apertados por duas correias também metidas numas pequenas ranhuras feitas na própria madeira e esticadas por uma chaveta na laçada da correia. O carapuço do cabo era apertado com uma tira mais fina e depois pregada com pregos de cabeça larga. Estes utensílios eram usados na debulha dos cereais, quase em todo o país; embora nas Beiras e Trás-os-Montes fosse mais frequente ver grupos de homens malhando nas eiras, o trigo, centeio e o milho.


Nora

Tradicionalmente as noras são engenhos de tracção anima. Estes engenhos vieram em muitos casos substituir a picota ou cegonha anteriormente utilizados como engenhos principais para tirar água na Península Ibérica. Pensa-se que a sua introdução na Península Ibérica é de origem Árabe.
Possui uma haste horizontal acoplada a um eixo vertical que por sua vez está ligado a um sistema de roda dentada, rodas dentadas. Este sistema faz circular um conjunto de alcatruzes (copos) entre o fundo do poço e a superfície exterior. Os alcatruzes (copos) descem vazios, são enchidos no fundo do poço, regressam e quando atingem a posição mais elevada começam a verter a água numa calha (maceira) que a conduz por um ao seu destino. O ciclo de ida e volta dos alcatruzes ao fim do poço para tirar água mantém-se enquanto se fizer rodar a haste vertical e o poço tiver água.


Picanço

Engenho usado quase em todo o país para extrair água dos poços, rios e ribeiros. Feita em madeira de Pinho, era formada por tronco ou forcalha, espigão e vara, balde e pedra com o peso aproximado de um balde cheio de água. A pedra era colocada sobre dois paus metidos na parte traseira do espigão, facilitando assim, a subida do balde cheio. Era usada para a rega e para o consumo de casa.









Carro de bois

Originário da Beira Interior, Beira Alta e algumas zonas serranas da Lousã, Sertã, Castelo Branco, etc. Com rodas raiadas com massa ou cepo onde era embutida uma bucha em ferro fundido, onde trabalhava o eixo também em ferro com cerca de 6 a 7 cm de diâmetro (interior da bucha), sendo quadrado na parte central. O eixo era furado nas pontas onde era introduzida uma chaveta em ferro, evitando assim, que a roda saísse; a lubrificação deste eixo e bucha era feita quase semanalmente com gordura de porco ou óleo queimado (mais recentemente).

Na parte inferior do carro era usual existir um chifre de boi cheio desses materiais com um pincel feito de pano com cabo de madeira para essa lubrificação. Eram usados dois tipos de fueiros ou estadulhos; os mais curtos eram usados no transporte de produtos mais pesados como lenha, estrume, etc. Os mais altos só eram usados no transporte dos cereais como trigo, centeio e outros, dos terrenos para as eiras e no transporte da respectiva palha.



Arado de madeira e Grade




Utensílio em madeira de Carvalho, Freixo ou Azinho, com bico ou relha em ferro forjado. Era formado por dente, rabiça, bico ou relha, aivecas, timão pescaz e teiró. Conforme o modelo e a zona, o timão, como o dente eram separados em duas partes, o timão passava a ser a garganta e o prolongamento era a cabeça, a rabiça e o dente, assim como a garganta e a cabeça eram ligados por uma viela, sendo ajustados por um pescaz. Nos vários tipos de arados havia 4 grupos definidos; radial; quadrangular; labrego e Vessadoiro. Nestes 4 tipos havia uma variante muito grande que podia ser com roda simples com carreta de duas rodas, aivecas fixas ou móveis, estas presas por um gancho do centro do dente e ligadas entre si por uma corrente, tanto podiam ser de rabiça simples ou dupla, em alguns casos era o alongamento das aivecas que servia de dupla rabiça. Também a rabiça podia ser dupla aproveitado a madeira que era cortada para o efeito com duas trancas opostas como uma forcalha. O seu tamanho variava conforme os animais a puxá-los e a necessidade de cada agricultor.

Grade


Utensílio em madeira de Carvalho ou Azinho com 4 travessas e duas cabeceiras. Eram-lhe aplicados dentes com cerca de 25 cm que poderiam ser de madeira ou de ferro. Estes eram, geralmente, feitos por um ferreiro, sendo por vezes usados os trifons dos carris dos Caminhos de Ferro. O número variava conforme o tipo de terreno e o tamanho da grade. Era usada no amanho dos terrenos depois de lavrados e na cobertura das sementes quando lançadas à terra. Puxada, geralmente, por uma junta de bois ou parelha de cavalos. Em certas zonas do país era-lhe colocada uma pedra para fazer mais peso, embora noutras zonas fosse usual andar o abegão ou moural em pé em cima da própria grade, sendo para isso necessário a junta de bois estar muito bem treinada para esse tipo de trabalho.


Charrua




Utensílio em ferro forjado e parte em ferro fundido, (roda, aiveca, relha e bico) o timão, em algumas zonas do país era em madeira de Carvalho ou Azinho com todas as outras peças apertadas com parafusos. Era usado na agricultura para lavrar os terrenos.

Com uma só aiveca móvel, presa por um gancho para virar a terra sempre para o mesmo lado, conforme o seu tamanho tanto podia ser puxada por uma parelha de animais vacuns, ou uma parelha de bestas, sendo frequente ver um burro ou um vitelo a fazer parelha para o efeito.

Candeeiro a petróleo


Quantas pessoas estudaram à luz de candeeiros a petróleo! Quantas não vieram de localidades com electricidade! Quantas donas de casa fizeram malha ou costura à luz de tal tipo de iluminação!



Quando falamos de “petróleo” em relação a candeeiros, deveríamos dizer mais rigorosamente “querosene” ou “petróleo de iluminação”. Este líquido avermelhado de cheiro característico vendia-se em todas as mercearias. Também se vendeu ao domicílio.

Os candeeiros a petróleo eram geral de vidro. Alguns tinham um pé alto. As torcidas vendiam-se nas lojas e eram achatadas. Podiam fazer-se subir ou descer por meio duma roda exterior ligada a outra que tinha dentes e estava em contacto com as torcidas. Estes candeeiros tinham chaminés de vidro que protegiam as chamas.

Para acender um candeeiro a petróleo, retirava-se a chaminé e chegava-se à torcida um fósforo a arder. Para apagar o candeeiro, levantava-se a chaminé e apagava-se a chama com um sopro.

Em certas casas havia suportes para candeeiros a petróleo. Noutras eram colocados onde era mais cómodo e útil, como por exemplo, na mesa de cabeceira, na mesa de refeição ou em cima duma cadeira ao pé do lume.


Havia candeeiros a petróleo apropriados para usar na rua ou em palheiros. Eram feitos de lata e tinham uma pega para transporte. Podia-se levantar e baixar a chaminé por meio duma mola. Com a mesma finalidade se podiam usar as lanternas, em que quatro vidros laterais protegiam a chama. As charretes tinham lanternas redondas Um lampião era uma grande lanterna fixa no tecto ou numa parede.

Em noites sem lua os caminhos eram percorridos, antes da chegada da luz eléctrica, em completa escuridão. No entanto, as pessoas tinham uma espécie de instinto que lhes permitiam pôr sempre o pé no sítio certo e seguir os percursos indicados Tinham um certo encanto e mistério essas noites anteriores à iluminação pública!








Fisga



Quanto à fisga, até se dizia na altura que quem faltava às aulas é porque andava com a fisga aos “pardais”. Mas a fisga deixou boas recordações. Recordo os campeonatos que se faziam para ver quem tinha mais pontaria, para ver quem conseguia atirar mais longe, mas também havia a parte menos boa relacionada com a fisga que era a caça aos pássaros ou tudo que tinha asas. Mas quanto aos jogos com fisgas, só as melhores conseguiam bons resultados. Então para isso, havia especialidades em fazer fisgas com os melhores materiais. A gancha de boa madeira para fazer pontaria, a borracha da melhor e com muita elasticidade para atirar mais longe, o cabedal amarrado com fio forte para poder suportar bem o projéctil, mais conhecido por pedra e até aqui havia as escolhas, o seixo arredondado do rio que era mais maciço e mais denso era sinal de maior precisão, porque não se desviava com a velocidade do vento.


1) Procura-se o ramo ideal para a fisga. Não deve ser nem demasiado grosso, nem demasiado fino deve ter, mais ou menos, a grossura do polegar. As oliveiras são óptimas para fisgas porque têm imensos ramos novos em Y , grossos e finos, e assim a árvore não fica ferida por se tirar um ramo jovem.

2) Corta-se o ramo pela base com um bom serrote e não à machadada , de forma a não ferir a árvore. É conveniente cortar o ramo escolhido pela base e depois cortar a fisga à medida pretendida, para não estar empoleirado a três metros do chão durante muito tempo! Não queremos acidentes!

3) Agora retira-se a casca do ramo, pois com o passar do tempo a casca iria secar e cair, portanto, o melhor é retirá-la já com um canivete. Cuidado aqui: segura-se o canivete bem firme e perto da lâmina e corta-se sempre para fora, para longe do corpo. Verificar se não há ninguém à sua frente enquanto dá os golpes na fisga.

4) Fazem-se uns cortes na circunferência de cada ramo na parte de cima do Y com o canivete, para que o fio que prende o elástico fique bem entalado.

5) Utiliza-se uma câmara-de-ar da bicicleta velha para os elásticos da fisga. Com um x-acto e uma régua, cortam-se tiras da câmara-de-ar com cerca 50 a 60 cm de comprimento. Cuidado com o x-acto, é que corta mesmo muito bem! Depois corta-se o bocado de elástico em dois. Vai ter de se experimentar um pouco, para obter a tensão e elasticidade necessárias.



A Rodilha



As Rodilhas são pequenas almofadas, macias e fofas, de forma circular abertas ao centro; eram utilizadas pelas mulheres para transportar à cabeça grandes pesos como a cestas de peixe, o cesto de lenha, de uvas ou simplesmente os cântaros de água.
Os materiais utilizados e a forma para a sua confecção: para fazer uma rodilha basta juntar trapos velhos, envolvê-los em pedaços de meias, por ser um tecido mais fino, moldá-los e revesti-los com a forma de uma roda, utilizam-se fios entrelaçados de duas cores de lã. Para fazer a decoração utilizam-se tiras de trapos, lãs e linhas de bordar entrelaçados e bordados. No passado faziam-nas com fitas cortadas de uma peça de roupa velha e decoradas com fitas coloridas.

As rodilhas têm como característica principal serem leves e macias devido à sua relação forma/função, tem como principal objectivo servir de apoio para o transporte de pesos.

Através do tempo as rodilhas ganharam outras funções além de serem um bom apoio para o transporte de objectos à cabeça, também podem servir de base de tachos para a mesa, de suporte para os alfinetes e como objecto de decoração. Hoje em dia são consideradas peças de artesanato.